segunda-feira, 14 de junho de 2010

Íntimo, talvez pessoal

Uma pessoa manca está subindo uma escadaria de trezentos degraus. Ela ainda está na primeira dezena desses lances de escada. Ma ela sabe que tem que terminar, já iniciou o percurso, e mesmo sabendo que ainda tem a chance de voltar, ela anseia chegar ao topo.

Durante o percurso, a perna que não é necessariamente boa, começa a dar as pontadas de dor, a testa da pessoa se franzi, passa pela cabeça dela voltar atrás. Ficar na estaca zero, onde estava antes.

Mas a sombra da luz, no fim daquela escadaria começa a aparecer, e ela esquece aquela dor, pensando em outras coisas, seguindo.

Ainda sentindo aquela dor, aquela pessoa aprende a ignorá-la, seguindo o caminho, e depois de certo tempo chegando ao topo.

Eu convivi com uma dor, até chegar a onde eu queria. Eu tive de ignorar que ela existia. Eu tive que continuar andando quando eu sentia minhas dores. Eu tive de direcionar minha cabeça para frente quando eu tive vontade de voltar correndo. Eu tive vontade de te abraçar, quando passei por você, e continuei olhando fixamente para frente.

Mas isso passou, aprendi a ignorar essa “dor”, fingindo que não era nada mais que um imprevisto. Aprendi a não olhar mais para você, aprendi a não tentar conversar, a não correr mais atrás, não só de você, mas de um todo.

E hoje eu olho, não o que poderia ter acontecido – o grande mau do ser humano – olho que o que vem pela frente, eu vou ter de reconstruir, olho que para mim não faz diferença, que em algum lugar, tudo isso é uma mera lembrança.

Meu olhar se perdeu, afogou-se em cinzas. E de certa forma, eu gosto disso. Gosto de como não quero ter perspectivas de não sentir algo por mais alguém. De como tudo, está cada vez mais perdendo o sentido, e minha racionalidade, não está sendo o suficiente para me convencer que valha a pena.

De como a trajetória desse caminho, eu foquei só em uma coisa, e não parei para olhar a paisagem, as flores, ou quem passou por mim. Pois meu enfoque não deixava. De como meu medo de declarar para as pessoas que eu amo, que eu as amo, se apossou de mim.

Este caminho, eu não posso o refazer, para registrar as lindas paisagens que eu não observei, e de conversar com as pessoas que não conversei. Tudo que posso fazer, é começar outro, mas levar comigo, uma máquina fotográfica, que registrará todos os bons momentos, das pessoas que irão passar, dos lugares que conhecerei. Fotos, que na verdade são memórias, mas que eu ainda não as tirei.

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